Uma viagem pelo mundo das malhas: Da compra à sua manutenção

As fibras

Fibras Naturais


A lã é uma fibra animal proveniente de ovelhas. Existem várias raças de ovelhas pelo mundo fora, e que originam fibras com características distintas. A raça mais comum usada na confeção de malhas é a merino por ser uma fibra mais suave e que não dá aquela sensação de que “pica” na pele. É também por essa razão que em lojas se vê muito frequentemente “merino” na composição das peças.

 

Porquê usar lã? A lã é, talvez, a fibra mais versátil que existe, permite várias utilizações, não só em vestuário. Mas uma das grandes vantagens é que tem uma função de regular a temperatura do corpo. Sugiro que experimentes e compares o seguinte: usar uma blusa com composição 100% lã e outra de composição apenas de acrílico. Sentiste a diferença? A lã é um isolante térmico (não é por acaso que é usado na construção de casas!). Por exemplo, em dias de chuva, mesmo que te molhes, o teu corpo vai continuar quentinho.


Também existem outras fibras animais, como: alpaca, caxemira, mohair, angorá, provenientes de alpacas (lhama), cabras, coelhos angorá, respetivamente.


Fibras Sintéticas


Quando falamos de fibras sintéticas, o mais comum é o uso de polyester, poliamida (nylon), acrílico, lycra, etc. Mas cada fibra (natural ou sintética) tem a sua especificidade e diferentes funções. Focalizando no assunto deste artigo, as malhas, defendo o uso de fibras naturais.  


Observar as peças que temos no armário


Antes de pensar em comprar, aconselho primeiro que observes as malhas que tens no armário e tenta perceber se continuas ou não a gostar e a usar essas peças ou, em caso contrário, que destino lhes vais dar (doar, vender, evitar ao máximo deitar para o lixo).


Onde comprar? Em que lojas posso encontrar uma boa oferta?


Existem lojas e marcas que oferecem malhas de boa qualidade. Ficam algumas sugestões:  Armazém das malhas, Sézane, Massimo Dutti, Stefanel, Arkett, Benetton.

Deixo também sugestão de algumas marcas de autor portuguesas, que podes encontrar em lojas on-line e que eu gosto bastante: Somos Marie, B-Simple, Naz Fashion. 

Também podes pedir a tua peça personalizada, adequando-a ao teu estilo e armário de roupa :) (podes ver aqui o meu serviço, por exemplo ou fazer pesquisas em lojas de roupa de segunda-mão, que muitas vezes apresentam ofertas de malhas de estilo vintage e de muita boa qualidade e a preços bastante acessíveis. 


Na hora da compra, como escolher? Como saber se uma peça é de qualidade?


É fundamental olhar para as etiquetas, ver e comparar composições das peças e preços. 


Deixo-te algumas sugestões para que possas comprar o melhor possível. 

  • Dar preferência a composições com maior percentagem de lã;

  • Evitar composições mistas (naturais com sintéticos), porque é mais difícil ou mesmo impossível de reciclar a peça (depois de descartada);

  • Se a composição tiver mistura, dar prioridade às fibras naturais (como a caxemira, alpaca,  algodão, a seda); 

  • Dentro das fibras sintéticas, dar prioridade à viscose e à poliamida (mas em pequena percentagem).


As lãs mais macias, como a caxemira, alpaca e mohair, são fibras mais macias, mais leves e quentes. Mas também são fibras mais delicadas e que requerem mais cuidados na sua manutenção. São por norma fibras mais caras, por isso, costumam ser combinadas com outras fibras como a lã merino, a seda ou o algodão (ou com acrílico ou outra fibra sintética também). Desta forma vai tornar a peça mais macia e também com um preço mais acessível, e, também vai contribuir para a sua durabilidade, pois a lã é uma fibra mais resistente. A seda é um bom exemplo combinado com a lã, que confere maior qualidade e durabilidade à peça.


Comparar etiquetas, um exemplo prático:


Exemplo1
Exemplo 1: A composição da peça inclui muitas misturas de fibras (algodão30%, acrílico23%, poliamida 21%, alpaca13%, lã 12%, elastano1 %),não garantindo a qualidade da mesma. Há uma coisa que me impacta no imediato nestas situações, o aspeto da peça. Mas a experiência também conta. Para mim é natural olhar e perceber logo se estou perante uma peça boa ou menos boa.


Exemplo 2

Exemplo 2:
Esta peça, quando comparada com a peça do exemplo 1, é de melhor qualidade, apresentando na sua composição menos misturas de fibras (lã 39%, poliamida 34%, alpaca 27%). A percentagem de lã e alpaca quando somada é superior à de fibra sintética. 

Como os valores de ambos os exemplos são iguais, compramos uma peça de melhor qualidade no exemplo 2. 

  


Fonte das fotografias: Site da loja Massimo Dutti.



Porquê optar sempre que possível por uma peça de única composição? 


No momento de escolha das malhas, é cada vez mais importante pensar na sua durabilidade e ponderar bem o que queremos comprar. Quanto mais gostarmos da peça, mais vamos querer usá-la e cuidar dela. Mas, quando chega o momento de descartar essa peça do nosso armário ou já não estiver em condições de a usarmos, o que se pode fazer? Embora descartemos a peça do nosso armário, não estamos a descartar a peça do planeta. Ela não desaparece pura e simplesmente. Por isso, quanto mais naturais forem as fibras usadas na confeção da peça e quanto menos misturas tiver, melhor e mais facilmente será a sua reciclagem e/ou decomposição. Uma peça de uma só fibra poderá ser reciclada e ser matéria prima para a confeção de outra peça/material. Peças feitas com misturas de fibras (naturais com sintéticas) ainda não são possíveis de reciclar ou mesmo que o venham a ser, implicará sempre demasiados recursos ao planeta.   


Deixo ainda uma outra nota, a de observar na etiqueta o local em que a peça foi produzida. Considero que é fundamental fomentar, na hora da compra, o que é produzido em locais mais próximos de nós. Estamos a contribuir para a produção e economia nacional, a preservar empregos, a minimizar o impacto ambiental.



Como posso cuidar das malhas?


Depois da compra queremos usar o máximo de vezes possível as peças de malha. Mas surgem sempre dúvidas quanto à sua manutenção. 

Deixo aqui algumas sugestões de cuidados de manutenção, desde a lavagem ao guardar no armário durante a estação quente. 

Borbotos

É natural que apareçam borbotos, porque são um resultado da fricção das fibras. Surgem muito na zona dos braços e antebraços. O aparecimento de borbotos também é influenciado pelo tipo de fio usado, mesmo que seja um fio natural. Quanto mais resistente for o fio, menor probabilidade de originar borboto (mas não elimina!). Um fio torcido é mais resistente do que um fio que não seja. Esta observação é mais facilmente perceptível para quem faz tricot, porque vai conhecendo os vários tipos de fio que pode usar e como cada um tem a sua especificidade própria. Mas mesmo para quem não perceba nada desta arte, fica uma dica prática: pensa numa corda ou num fio de sisal ou juta. Consegues perceber que o fio é resistente e que é constituído por vários fios mais finos que são torcidos entre si, provocando uma certa tensão. O mesmo acontece com os fios de lã. Há fios mais torcidos do que outros, e que por isso se tornam mais resistentes à fricção. Os fios de lã menos torcidos têm tendência a gerar mais borboto por ação da fricção. 

Lavagem

Antes de lavar, seleciona um dia de sol para lavar as camisolas, casacos e outras peças de lãs, como as luvas, os gorros e os cachecóis. 

Observa se as camisolas e casacos têm borbotos. Os borbotos podem ser retirados facilmente com uma máquina de tirar borbotos ou com uma lâmina velha, e desta forma a tua peça vai ficar como nova. Podes ver o pequeno vídeo tutorial em que mostro como costumo fazer. Vê aqui.   

Usa um detergente ecológico e o mais neutro possível.

Aconselho sempre a lavar as peças de lã à mão. Eu tenho este hábito. Claro que tenho uma casa que me permite fazê-lo. Caso não seja possível para ti, lava na máquina, mas no programa delicado, das lãs, a uma baixa temperatura e sem torção. 

Em caso de lavagem à mão, podes optar por lavar as peças do avesso. Mergulha-as na água e deixa-as de molho durante algum tempo (pelo menos 30 min.). Quando estiveres a lavar as peças, esfrega as peças com delicadeza. Faz movimentos circulares e suaves, na zona das cavas, no decote, nos punhos. São estas as zonas onde normalmente podem ganhar mais sujidade. Aproveita a água da lavagem para usares na sanita ou para regar as plantas! 😉

Toma nota! Não precisas de lavar frequentemente as tuas peças de lã! Como a lã é uma fibra natural e muito respirável, não cria odor tão rapidamente como uma fibra sintética. Durante a estação fria, basta aproveitar um dia de sol e deixar arejar.  

Secagem

Se lavaste as tuas peças à mão, retira o excesso de água com a ajuda de uma toalha (vê neste vídeo como faço)

Não torças! A fricção de torcer as malhas potencia o surgimento de mais borbotos. E além disso, pode deformar a peça. Coloca as tuas peças a secar na horizontal. Mais uma vez, estender na vertical, faz com que as peças percam a sua forma e podem ganhar vincos indesejáveis. Não queremos isso!

Aproveita o sol para secar. Mas tem atenção que, caso realizes esta rotina num dia muito solarengo, já num dia muito quente de Verão, aconselho a que não deixes as peças muito tempo ao sol, para não ficarem muito tesas. O sol primaveril é o mais indicado. Mas caso o faças no Verão, tem em conta que as temperaturas são bem mais altas e não convém estender diretamente ao sol durante muito tempo. Eu não gosto de o fazer. 

Como guardar

Guarda as tuas peças num local seco, sempre que possível! Coloca também um saquinho de alecrim (ou alfazema ou outra ervinha de cheiro que tenhas) junto com a tua roupa. Também fiz um vídeo onde partilho como fazer os saquinhos de alecrim. É simples! Carrega aqui para ver.

Podes optar por guardar as peças numa caixa ou num saco de plástico. Eu não o costumo fazer, mas há quem o faça.

Remendar

Se tiveres alguma peça de lã que precise de um arranjo, por exemplo, se tem uma malha solta ou tem algum tipo de buraco, pesquisa como poderás remendar. Hoje em dia está no moda a técnica de #Visiblemending. É uma solução criativa e bem bonita. 

Fiz um vídeo onde mostro como cuidei de um casaco vintage. Vê aqui.

Se depois disto ainda tiveres dúvidas ou sugestões, envia para o email pontosevoltas@gmail.com